A interface entre memória e sono já é bem reconhecida. Durante o sono corpo descansa mas nosso cérebro fica ativo, e em certas fases do sono até mais ativo que durante a vigília (sono REM). O sono tem um papel ativo na seleção e consolidação de memórias. As memórias são selecionadas, algumas descartadas e outras memórias mais recentes reverberam para serem armazenadas em locais mais seguros.
Qualquer distúrbio que comprometa a qualidade de sono pode interferir neste processo e por sua vez causar alterações cognitivas. Nas crianças sintomas de sono ruim e fragmentação do sono podem ser similares ao transtorno de hiperatividade.
Pacientes adultos com distúrbios do sono (apnéia do sono, insônia e outros) podem ter queixas de memória recente e idosos podem ter alterações mais significativas da cognição.
Mais recentemente algumas descobertas sobre o sistema glinfático (um sistema de depuração/limpeza cerebral) trouxeram novos “insights” na questão da memória e do sono.
Sabemos que a principal causa de demência no mundo é a doença de Alzheimer e ela ocorre também pela deposição de uma proteína chamada beta amilóide no tecido cerebral formando as placas amilóides. Alguns estudos recentes comprovaram que este sistema glínfático (que faz a “limpeza cerebral”) está mais ativo durante o sono.
A interrupção da atividade das sono ondas lentas (sono profundo) aumenta os níveis de deposição beta amilóide de forma aguda e a piora da qualidade do sono durante vários dias aumenta a deposição de proteína Tau (também relacionada com doenças neurodegenerativas). Estes efeitos são específicos para proteínas derivadas de neurônios, o que sugere que eles são impulsionados por alterações na atividade neuronal durante o sono interrompido.
Desta forma melhorar a qualidade do sono ou tratar distúrbios do sono poderia aumentar a depuração do beta amilóide e proteína Tau ao longo da vida e auxiliar na prevenção da doença de Alzheimer e doenças neurodegenerativas. No entanto, esta abordagem pode não ser eficaz em adultos com mais de 73 anos ou em alguns indivíduos com predisposição genética para acúmulo de beta amilóide.
Cuide do seu sono durante toda a sua vida, dormir bem e dormir o suficiente parece ser um passo necessário para a prevenção da Doença de Alzheimer e outras patologias.
Se você dorme mal, tem sono fragmentado, cansaço excessivo; procure um especialista.
Sonhos bons nutrem a vida.
Dra Lucia Sukys Claudino
Especialista em medicina do sono
Links interessantes:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5305432/